O primeiro filme dirigido por Wagner Moura é a biografia de Carlos Marighella, figura emblemática da história brasile
Por Maria Lacerda | culturadoria.com.br
Político, escritor e guerrilheiro, Carlos Marighella é uma das figuras brasileiras mais importantes na luta conta a ditadura militar pós-64.
O inimigo número 1 do Brasil, segundo a propaganda da ditadura militar da época, tinha nome e sobrenome: Carlos Marighella. Baiano, neto de escravos sudaneses e filho de um imigrante italiano. Era também poeta, congressista, escritor aclamado e guerrilheiro. Perseguido, acabou morto pelo regime em 1969. Tem o nome cravado na história do nosso país e agora virou personagem do primeiro filme dirigido pelo ator Wagner Moura. Olha que tem tempo que essa produção foi anunciada, viu! Mesmo assim, sempre esteve cercada de polêmicas.
Carlos Marighella, interpretado por Seu Jorge, é uma figura controversa na história brasileira. Sendo assim, é descrito tanto como herói e como vilão. Apesar disso, a força de resistência que gerou contra o autoritarismo através de ações e obras é inquestionável. Razões de sobra para que Wagner Moura transformasse a história do guerrilheiro em um filme.
Quem foi Marighella?
Marighella ingressou na carreira política na década de 30. Na época, abandonou a faculdade de engenharia para se dedicar ao Partido Comunista do Brasil. Anos depois, foi um dos co-fundadores do movimento armado Ação Libertadora Nacional (ANL). Assim, lutou contra a repressão do regime militar.
Comunista e anti-imperialista, Marighella acreditava na organização de núcleos táticos e armados. Ou seja, as guerrilhas urbanas. Cansado da ideia de uma revolução pacífica, o militante defendia métodos mais ofensivos, capazes de trazer a atenção da população para a luta anti-militarista e ter um real impacto sobre o regime.
Perseguido pela ditadura, Marighella morreu assassinado em uma emboscada do Departamento de Operações Política Social (DOPS). Detalhe: o crime ocorreu em 4 de novembro de 1969, exatamente a data da estreia do longa. E tem mais: o caso ganhou o devido tratamento somente mais de 40 anos depois. Isso graças às apurações da Comissão da Verdade.
Lançamento conturbado
Se você tem uma sensação de deja vu ao ouvir falar no filme Marighella, provavelmente não é à toa. O longa estreou no Festival de Berlim de 2019. Desde então, passou por diversos festivais internacionais.
A estreia original era prevista para o Dia da Consciência Negra, ainda em 2019. Apesar disso, o lançamento no Brasil foi cancelado, primeiramente, por questões envolvendo a Agência Nacional do Cinema (Ancine). Depois, o adiamento se deu por causa da pandemia.
Lançado em um mês simbólico e, coincidentemente, nos 52 anos desde o assassinato de Marighella, o longa é uma homenagem às resistências populares. Através de um personagem maldito da cultura brasileira, Moura conta, também, a história da luta contra o autoritarismo e censura da Ditadura Militar.
Histórias, nossas histórias
Inspirado no livro “Marighella o Guerrilheiro que Incendiou o Mundo”, de Mario Magalhães. Sendo assim, retrata a história do movimento da luta armada durante a ditadura. Apresenta a história das pessoas por trás da luta armada. A trama se concentra no recorte que se estende de 1964, até a morte de Marighella. Neste período, o longa destaca a realidade daqueles que participaram da luta pela retomada da democracia.
Ao contar a história de Marighella, conhecemos também outros personagens que fizeram parte da vida do militante. Entre eles estão, por exemplo, o filho, Carlinhos, e sua companheira, Clara Charf, interpretada por Adriana Esteves.
Também fazem parte do elenco, Bruno Gagliasso, Herson Capri e Luiz Carlos Vasconcelos. Eles interpretam personagens fictícios que representam militares, jornalistas e companheiros da luta armada. Apesar do toque de ficção em meio à uma história real, os personagens são um retrato daqueles que vivenciaram o período. Caminhando com ou contra Marighella.
Sendo assim, o longa carrega uma sensibilidade ímpar ao ressaltar a humanidade daqueles que colocaram suas próprias vidas em risco em prol da luta contra o autoritarismo do regime. A separação entre famílias é um dos pontos de destaque, principalmente na relação entre Marighella e Carlinhos, retratando o impacto da vida na ilegalidade nas dinâmicas familiares.
Mensagem necessária
“Marighella” é um filme político, carregado de simbolismo e resistência. E, no Brasil de 2021, carregado por ataques ao pensamento crítico e à produção cultural, além das exaltações recorrentes ao regime militar, a mensagem passada pelo filme se faz ainda mais atual.
Ao retratar a história de um dos maiores nomes da luta contra a ditadura militar, Moura tenta reconstruir a memória das mazelas e da repressão do período. O longa é um grito pela cultura e pela luta do povo brasileiro, “memória de um tempo onde lutar por seu direito é um defeito que mata”.
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